O Estado de São Paulo - 18/
02/ 2013
FERNANDO ELIEZER FIGUEIREDO
, JULIANA LOPES, DIRETOR PARA O BRASIL, DIRETORA PARA AMÉRICA LATINA DO CARBON
DISCLOSURE PROJECT (CDP)
Os benefícios para o planeta
de ações ambientais conscientes por parte de indivíduos, comunidades e empresas
são facilmente compreendidos e disseminados. Porém, uma preocupação cada vez
maior atinge investidores de todo o mundo: e para os negócios? Qual o impacto
da postura de uma companhia quanto ao capital natural em seu desempenho
financeiro? Hoje, cada vez mais, os investidores procuram empresas que reportam
suas ações em relação ao meio ambiente. E, claro, que tais ações sejam cada vez
mais bem-sucedidas no combate às mudanças climáticas e à escassez de capitais
naturais, como água e florestas.
Chuva de mais ou de menos em
outro continente podem afetar a produção de uma matéria-prima vital para uma
empresa brasileira - e fazer a companhia crescer menos ou até decrescer naquele
exercício. Casos de seca ou de inundação em determinado local pode impactar
diversos negócios ao redor do globo. Em 2011, por exemplo, a Intel perdeu US$ 1
bilhão em receita e a indústria automotiva japonesa perdeu US$ 450 milhões em
lucros, como resultado da interrupção dos negócios causada pelas enchentes que
atingiram fornecedores na Tailândia.
Em um mundo com mais de sete
bilhões de pessoas e um nível de CO2 que atinge a marca de 400 ppm (partes por
milhão) na atmosfera (quando o indicado seria 350 ppm), a mudança climática vai
(e precisa) ser cada vez mais incorporada à estratégia de negócio. Esse
fenômeno atinge diretamente a economia: estimativas preveem que, até 2030, o
PIB mundial pode cair até 3,2%. Um recente relatório do Banco Mundial aponta
perdas financeiras que alcançam R$ 15 bilhões no Brasil entre 2008 e 2011-
perdas que estão ligadas a desastres naturais que aconteceram em quatro
Estados: as enchentes em Santa Catarina (2008); a pior estação de chuvas em
duas décadas em Alagoas e Pernambuco (2010); inundações e deslizamentos na
Região Serrana no Rio (2011).
Hoje, já é fato que
companhias mais preocupadas com o meio ambiente têm desempenhos melhores em bolsas
de valores. Um sinal dessa tendência é o resultado de um estudo recente
divulgado pelo Carbon Disclosure Project (CDP), ONG que trabalha para prevenir
as mudanças climáticas, proteger os recursos naturais e criar prosperidade a
longo prazo por meio da alocação eficiente de capital. Informações do relatório
Carbon Action 2012 apontam que as empresas que reportaram investimentos em
projetos de energia limpa e redução de carbono viram tais projetos gerar um
retorno positivo de investimento (ROI) de 33% ou um retorno total em até três
anos.
Por tudo isso, cada vez
mais, é fundamental que fundos de pensão, bancos, fundações, seguradoras,
gestores de ativos e até o pequeno investidor tenham acesso a informações para
analisar o risco climático em uma empresa. Eles não precisam abrir mão de sua
rentabilidade para investir em empresas mais saudáveis também do ponto de vista
ambiental. Um levantamento feito pela Anbima mostra que, no primeiro semestre
do ano passado, fundos de ação da categoria sustentabilidade e governança
renderam, em média, 13,69% acima dos grupos Ibovespa Ativo (5,55%) e IBrX Ativo
(7,81%). Colocando-se este fato na balança, ao lado de estudos do BID que
estimam que o aumento da temperatura causa perdas avaliadas em US$ 100 bilhões
por ano até 2050, a relevância do fator meio ambiente na tomada de decisões
torna-se fundamental. Essas perdas, segundo a pesquisa, serão resultado direto
de eventos como impactos climáticos na produção agrícola e mudanças nos padrões
pluviais. O BID estima que em 2050 a América Latina e Cariperderá de US$ 30
bilhões a US$ 52 bilhões em exportações agrícolas.
Para conhecer este perfil da
empresa, o investidor deve cobrar dela o reporte de informações nas áreas
ambiental, social e de governança para saber o que está suportando a geração de
receita da empresa, evitando a exposição do seu investimento a riscos que não
são evidenciados pela análise de fatores econômico-financeiros. Um dado que
pode encorajar investidores e empresas a integrar a mudança climática na sua estratégia
é a correlação observada entre um melhor desempenho nas bolsas de valores e a
participação nos índices Carbon Performance Leadership Index (CPLI) e Carbon
Disclosure Leadership Index (CDLI). As empresas participantes de ambos os
índices ofereceram aproximadamente duas vezes mais retorno financeiro aos
investidores no período de 2005 a 2012, uma tendência clara de que uma gestão
de carbono eficiente impacta positivamente o desempenho econômico-financeiro.
O Estado de São Paulo - 18/
02/ 2013
FERNANDO ELIEZER FIGUEIREDO
, JULIANA LOPES, DIRETOR PARA O BRASIL, DIRETORA PARA AMÉRICA LATINA DO CARBON
DISCLOSURE PROJECT (CDP)
Os benefícios para o planeta
de ações ambientais conscientes por parte de indivíduos, comunidades e empresas
são facilmente compreendidos e disseminados. Porém, uma preocupação cada vez
maior atinge investidores de todo o mundo: e para os negócios? Qual o impacto
da postura de uma companhia quanto ao capital natural em seu desempenho
financeiro? Hoje, cada vez mais, os investidores procuram empresas que reportam
suas ações em relação ao meio ambiente. E, claro, que tais ações sejam cada vez
mais bem-sucedidas no combate às mudanças climáticas e à escassez de capitais
naturais, como água e florestas.
Chuva de mais ou de menos em
outro continente podem afetar a produção de uma matéria-prima vital para uma
empresa brasileira - e fazer a companhia crescer menos ou até decrescer naquele
exercício. Casos de seca ou de inundação em determinado local pode impactar
diversos negócios ao redor do globo. Em 2011, por exemplo, a Intel perdeu US$ 1
bilhão em receita e a indústria automotiva japonesa perdeu US$ 450 milhões em
lucros, como resultado da interrupção dos negócios causada pelas enchentes que
atingiram fornecedores na Tailândia.
Em um mundo com mais de sete
bilhões de pessoas e um nível de CO2 que atinge a marca de 400 ppm (partes por
milhão) na atmosfera (quando o indicado seria 350 ppm), a mudança climática vai
(e precisa) ser cada vez mais incorporada à estratégia de negócio. Esse
fenômeno atinge diretamente a economia: estimativas preveem que, até 2030, o
PIB mundial pode cair até 3,2%. Um recente relatório do Banco Mundial aponta
perdas financeiras que alcançam R$ 15 bilhões no Brasil entre 2008 e 2011-
perdas que estão ligadas a desastres naturais que aconteceram em quatro
Estados: as enchentes em Santa Catarina (2008); a pior estação de chuvas em
duas décadas em Alagoas e Pernambuco (2010); inundações e deslizamentos na
Região Serrana no Rio (2011).
Hoje, já é fato que
companhias mais preocupadas com o meio ambiente têm desempenhos melhores em bolsas
de valores. Um sinal dessa tendência é o resultado de um estudo recente
divulgado pelo Carbon Disclosure Project (CDP), ONG que trabalha para prevenir
as mudanças climáticas, proteger os recursos naturais e criar prosperidade a
longo prazo por meio da alocação eficiente de capital. Informações do relatório
Carbon Action 2012 apontam que as empresas que reportaram investimentos em
projetos de energia limpa e redução de carbono viram tais projetos gerar um
retorno positivo de investimento (ROI) de 33% ou um retorno total em até três
anos.
Por tudo isso, cada vez
mais, é fundamental que fundos de pensão, bancos, fundações, seguradoras,
gestores de ativos e até o pequeno investidor tenham acesso a informações para
analisar o risco climático em uma empresa. Eles não precisam abrir mão de sua
rentabilidade para investir em empresas mais saudáveis também do ponto de vista
ambiental. Um levantamento feito pela Anbima mostra que, no primeiro semestre
do ano passado, fundos de ação da categoria sustentabilidade e governança
renderam, em média, 13,69% acima dos grupos Ibovespa Ativo (5,55%) e IBrX Ativo
(7,81%). Colocando-se este fato na balança, ao lado de estudos do BID que
estimam que o aumento da temperatura causa perdas avaliadas em US$ 100 bilhões
por ano até 2050, a relevância do fator meio ambiente na tomada de decisões
torna-se fundamental. Essas perdas, segundo a pesquisa, serão resultado direto
de eventos como impactos climáticos na produção agrícola e mudanças nos padrões
pluviais. O BID estima que em 2050 a América Latina e Cariperderá de US$ 30
bilhões a US$ 52 bilhões em exportações agrícolas.
Para conhecer este perfil da
empresa, o investidor deve cobrar dela o reporte de informações nas áreas
ambiental, social e de governança para saber o que está suportando a geração de
receita da empresa, evitando a exposição do seu investimento a riscos que não
são evidenciados pela análise de fatores econômico-financeiros. Um dado que
pode encorajar investidores e empresas a integrar a mudança climática na sua estratégia
é a correlação observada entre um melhor desempenho nas bolsas de valores e a
participação nos índices Carbon Performance Leadership Index (CPLI) e Carbon
Disclosure Leadership Index (CDLI). As empresas participantes de ambos os
índices ofereceram aproximadamente duas vezes mais retorno financeiro aos
investidores no período de 2005 a 2012, uma tendência clara de que uma gestão
de carbono eficiente impacta positivamente o desempenho econômico-financeiro.